sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

por Amâncio Blog:- amanciogoncalves.blogspot.com E-Mail:- amanciogoncalves@sapo.pt “À laia de... cusquice...” (007) Por razões porque acabei por me deixar ultrapassar, não "croniquei" qualquer "cusquice" para o Natal/2009. Porém, quem habitualmente me lê já me adivinha os votos, porque não quis ser amargo!... Todavia, o mesmo já não posso dizer sobre as entradas no novo ano de 2010, porque todos achamos que vai ser pior que o de 2009 em todos os aspectos. E porquê?!... Ora, com os portugueses que nele votaram "de tanga", o nosso "Primeiro" foi gozar férias para as neves lá fora, e deixou-nos a bater o dente de frio cá dentro. Se vivesse com o ordenado mínimo ou menos que isso, mesmo com o ordenado de uma profissão na sua suposta área, teria mais juízo!... Mau sinal, pois, das irresponsabilidades do que por aí vem. Diz-se, agora, que não há almoços gratuitos!... Pena é que se esteja a falar para o "boneco". Bem, mas que os meus "indefectíveis" consigam encontrar uma forma menos penosa de encarar o novo ano, são os meus mais sinceros votos. E para que esta "abertura" tenha alguma claridade, recordo um meu artigo já anteriormente publicado e referente a esta época. - Corria o mês de Dezembro de mil novecentos e troca o passo, muito mais frio e agreste que o deste ano de dois mil e cinco. Pelas onze horas da matina a geada ainda gretava a terra, como se de frieiras se tratasse. O sol radioso não lograra ainda derretê-la, e zonas havia em que, porque mais abrigadas ou mais sombreadas, o gelo vingava dias e dias. Só quando uma chuvinha desabava é que a geleira ia p’ró galheiro, não sem que antes não provocasse alguns “bate-cús”!... Nesses tempos já um tanto longínquos, em que o “cachopo” ia para a escola a “butes”, muitas vezes descalço ou com uns socos ou umas chancas nos pés, não dava gozo nenhum fazer horas no caminho. Ia-se num pé e vinha-se noutro, que a geada não era de modas, e artigos de conforto e agasalho eram coisa rara e cara. Encurtava-se caminho pelos carreiros campesinos e de matedos, desafiando latidos e correrias dos “rafeiros” que os vigiavam, brandindo apenas a sacola como arma ameaçadora. Pois bem, não tão raramente como isso, a criançada chegava à escola com as mãos dormentes pelo frio, incapazes de segurar o giz ou um lápis, e trôpegas o suficiente para lhes custar abrir um livro. Era a poder do próprio “bafo” que se conseguia desentorpecê-las, o que demorava e demorava. Ora, o “catraiame” de então, que não era mais peco que o de agora embora lhes faltassem calculadoras, computadores ou internetes, logo lhes arranjaram um jeito, porque, ontem como hoje, a necessidade aguça o engenho. Assim, houve quem se lembrasse de aquecer umas pedras no borralho da lareira lá de casa e, quando quentinhas da silva, as embrulhasse num pedaço de jornal e as metesse no bolso das calças, de onde as mãos jamais saíam. Foi remédio santo, e daí a pouco todos já assim procediam com manifesto lucro para as aulas. As meninas usavam-nas nos bolsos da blusa ou do casaquito. Quando já frias, as pedras, a canalhada substituía-as no recreio pelo jogo da sardinha, procurando distribuir “bolachas” nas costas da mão do adversário “amouchado”!... E como aqueciam!... De resto, o tempo dos magustos passara, as castanhas já tinham desaparecido dos quintais e as azeitonas não entusiasmavam por aí além, porque nem curtidas estavam. As fruteiras hibernavam, e só restavam os pinheiros bravos e mansos mai-las suas pinhas. Que ninguém se incomodava que se varejassem e que, por isso mesmo, eram o artigo mais assíduo na noite de natal, pois serviam para o lume e se lhes aproveitavam os pinhões. Que, até, eram moeda disputada à roda do lar pelo jogo do “rapa” quando, fechadas as portas e tapadas as frinchas, se deixava o frio lá fora e se gozava em família o quentinho aconchegante e perfumado da lareira. Era uma alegria! E como custava deixar o brasedo para ir à missa do galo!... Mas tinha de ser, porque o “fogo de vistas” era muito lindo para se perder!... E, depois, à chegada, o “Menino Jesus” já teria posto a prendinha no presèpiozito pobre e mal arranjado, e a curiosidade era tanta, tanta, que nem se conseguiria dormir sem se saber o que era. A noite durava e durava, mas na manhã seguinte, dia de natal, podia dormir-se até muito mais tarde, enrodilhados nas mantas e nos cobertores e a tentar adivinhar o que se iria comer para além da “roupa velha”!... E o dia passava-se alegre e despreocupado, desejando que nunca mais acabasse ou que o natal fosse todos os dias. Hoje, a tradição está a perder-se. Com raríssimas excepções, que as há, o consumismo tomou conta de tudo. E já se esqueceu o presépio, substituindo-o pelo pai natal. Vendem-se árvores de natal arreadas de ornatos e enfeites para todos os gostos e preços, digam ou não respeito à quadra. O natal tornou-se barulhento e stressado, caro mas vazio, iluminadíssimo mas triste, porque lhe falta o espírito natalício e a alegria das crianças. Aquele, perdido num labirinto de tanto superficialismo ou ignorado por um emaranhado de ideias idealistas, esta, porque as nossas crianças de hoje têm tudo e esbanjam, não se deixando apaixonar pelo prazer da descoberta, nem se deixando envolver por sentimentalismos “piegas”. Então, o que mudou?... Tenho amigos que me chamam de saudosista, e vão ver neste artigo a prova-provada do que me acusam. Deixá-los, lá se avenham!... Não esqueçam, porém, que a saudade só a tem quem viveu e quer viver, e que quem não faz por merecer o passado jamais terá futuro. Não me importo, nem é meu propósito “impingir” qualquer lição de moral, mas não esqueçam que, como dizia o sábio, até o excesso de sono cansa. Bem, mas estamos no natal que, para mim, continua a ser o corolário do advento. É uma época de paz interior, de acalmia, de introspecção, de família, de amizades, de amor, de alegria. É uma data em que a criança é rei, não fosse o menino do presépio a sua figura central. Bem sei que outros se revêm na vaca ou no burro, figuras que a tradição ousou colocar na gruta. Mas gostos não se discutem, e cada um é produto das ideias que espalha. Eu prefiro pensar como penso, e é assim que desejo aos meus leitores um muito FELIZ NATAL, e, já agora que se trata da última tiragem do Entre-Vilas neste ano, um bom ANO NOVO de 2006 para todos. - Mudando certas datas, digam-me os meus amigos se não veio a matar!... Ronfe, 2010.01.06

Sem comentários:

Enviar um comentário